sábado, 13 de setembro de 2008

A revolução aprisionada na Bolívia

O proletariado da Bolívia – assim como de todo o mundo – está acorrentado ao Estado burguês e seu democratismo (1). Não há como reagir à ação desesperada da classe capitalista, quando vê sua ganância de lucros ameaçada, nos marcos do Estado capitalista e da sua hipocrisia democrática (2).
O proletariado da Bolívia consumiu a democracia daquele país. Usando a via democrática preconizada pela própria ideologia capitalista ele garantiu a soberania dos cidadãos não só na escolha do governante como também na participação cívica – para usar os termos que os democratas tanto gostam. O limite foi alcançado, novamente na história, é sempre assim, e quando este limite é alcançado o núcleo duro do Estado é convocado a se manifestar: as forças armadas.
A estratégia dos burgueses na Bolívia é simples: Morales tem nas mãos o Estado e é preciso que ele governe. O simples ato de governar a nação trairá Morales e este é seu paradoxo. A sua necessidade de reprimir aos provocadores contrasta com o fato de que ele usará dos meios capitalistas de que dispõe, e desta forma ele ao mesmo tempo em que convoca as forças armadas pede aos soldados que não usem as armas.
O proletariado internacional vive a muitas décadas um revés catastrófico e todo o cenário estabelecido após a chamada “segunda grande guerra” com a valorização da democracia através do anti-fascismo(3), que infiltrou-se demasiadamente no seio da nossa classe. Desde os círculos que não fazem crítica do Estado chegando até aqueles se classificam como anarquistas, estamos adoecidos pelo democratismo. O não reconhecimento – muitas vezes hipócrita – do fato de que romper com o capitalismo e seu Estado é romper com a ideologia democrática tem nos levado à cair nas armadilhas de nosso inimigo.
Um golpe de Estado está sendo tramado no altiplano boliviano, mas este golpe não será contra a democracia e sim a garantia de sua manutenção. Se for realizado um golpe - ainda que não haja eleições e outras formalidades democráticas durante um longo período posterior – este certamente cumprirá a tarefa essencial que define o Estado como democrático: garantir a soberania do cidadão sobre o proletário, negar o antagonismo de classes e preservar a domesticação de muitos seres humanos por outros poucos.



(1) É óbvio que as fronteiras nacionais também exercem papel contra-revolucionário fundamental, mas não é o que pretendo abordar aqui.
(2) A democracia é a essência do Estado capitalista, seja nas economias de cunho privado ou estatal ou misto, se autodenominem comunistas ou liberais. Nos países que não passaram pela “revolução socialista” é a forma tradicional de negar a existência do antagonismo de classes que impera, com o discurso da igualdade de todos perante o Estado. Já nos “países comunistas” para negar a persistência do conflito entre as classes é dito que o proletariado triunfou e que, portanto não há mais classes sociais. Mas o que caracteriza o Estado no capitalismo é a sua correspondência com o modo como o proletariado é explorado, onde as partes de um “livre contrato” aparecem como iguais e isto acontece em qualquer canto do planeta.
(3) Novamente chamo a atenção aqui para o papel do contra-revolucionário do nacionalismo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O jornal "O Combate" foi um instrumento importante na "Revolução dos Cravos" em portugal na década de 70 e sua leitura nos dá uma dimensão da luta revolucionária neste período. Há um material no site: http://www.marxists.org/portugues/tematica/combate/index.htm que merece ser baixado.